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Não consegui virar cavaleiro de Athena, então acabei na Astrofísica. Falo/Reclamo majoritariamente sobre Astronomia, gatos e futebol. BR Astrophysicist

Sep 19, 2018, 23 tweets

Já ouviram falar de buracos negros supermassivos? Sabia que temos um vizinho assim e que ele é muito legal? No coração da Via Láctea mora um desses. Galera vamos sair do quarto para dar oi e conhecer um pouco mais sobre esse nosso grande vizinho em mais uma #AstroThreadBR

O nosso vizinho ostenta o Nome de Sagittarius A*, SgrA* para os íntimos. Ele mora no centro da Via Láctea, o CEP dele é algo entre as constelações do Sagitário e do Escorpião, ele está numa região super habitada do céu.

Buracos negros supermassivos são famosos por terem milhões de vezes a massa do Sol, nesse caso o perfil do tinder de SgrA* seria:

Massa: 4 milhões de massas do Sol
Distância: 8kpc ou 2.5 * 10^17km (são 17 zeros!)

Se o alcance do seu tinder chegar lá, saiba que é um bom partido.

Buracos negros (BNs) são por definição caras difíceis de ver, não emitem luz como estrelas. Eles só brilham quando estão comendo gás ao redor, nesse cenário eles se tornam estupidamente brilhantes. Vocês podem relembrar isso na thread sobre BNs.

Ele mora no centro da galáxia, esse lugar é uma região muito confusa de observar, porque tem muita coisa ali! É estrela, é poeira, é resquício de algum evento do passado. Uma confusão enorme. Imaginem a dificuldade de achar algo praticamente invisível no meio da bagunça!

Agora vamos fazer uma pequena conta do tamanho dele. Peguem suas calculadoras! O tamanho de um BN é dado pelo Raio de Schwarszchild:

Raio = 2 x massa x constante gravitacional / velocidade da luz²

Ele tem o raio de 22 milhões de km. É algo imenso!

Mas como é que a gente não vê fácil algo desse tamanho??? Você lembra da distância que ele está da gente?
Quanto mais longe menores as coisas aparentam ser. Só para ter uma ideia, esse monstro, olhando daqui, aparenta ser 50 milhões de vezes menor do que a Lua!

Olhar para ele é literalmente procurar algo quase invisível, minúsculo no meio da bagunça cósmica que é o centro de uma galáxia. Mas os cientistas são muito espertos e conseguem “dibrar” todos esses empecilhos.

Outra dificuldade para ver o nosso coleguinha.
Existe muita poeira no meio interestelar, essa poeira absorve luz, fazendo o que chamamos de extinção. Ela só deixa passar luz mais vermelha. No centro da galáxia ocorre muito isso, é como se tivesse um filtro tampando nossa visão.

Recapitulando, daqui SgrA* é um BN quase invisível, é minúsculo, tem um monte de coisa na frente e ainda só passa luz de determinados tipos. Tarefa árdua ver esse cara, né?
Mas nós conseguimos, é só ajeitar a frequência da luz. A primeira observação dele foi em rádio.

Nos anos 30, Karl Jansky observou uma fonte de rádio intensa vindo do centro da galáxia. Anos e anos depois, a observação contínua levaram a resultados melhores e uma identificação da posição desse objeto. Ondas de Rádio são de onde vem nossas melhores informações sobre SgrA*

A dificuldade de observá-lo provavelmente é devida a ele estar comendo bem pouco material e por isso brilha pouco, sendo um buraco negro meio “inativo”, diferente dos AGNs (assunto de outra thread).

Com o avanço de telescópios nós conseguimos olhar bem pertinho dele em luz infravermelha. O que observamos são um grupo de estrelas no centro da galáxia orbitando. Pela lei da gravitação de Newton, sabemos que deve ter algum corpo no centro dessas órbitas.

Essas estrelas giram em torno de SgrA* como a Terra gira em torno do Sol. Acompanhando o movimento dessas estrelas, calculamos que o objeto ali no meio tenha massa de 4 milhões de Sóis. Essa é a grande evidência de que há um BN supermassivo ali.

Um dado curioso é que essa estrela chamada S2 (ownnn…) é uma das grandes (10-15 massas solares), tem uma órbita 970x maior do que a terrestre e ela dá uma volta em 16 anos. ISSO É ASSUSTADOR! IMAGINA UM BICHO COM MILHÕES DE MASSAS DA TERRA SE MOVENDO A 5000 KM POR SEGUNDO.

A órbita de S2 é utilizada inclusive para testar a teoria da Relatividade Geral de tão extremo que é o ambiente ali. Sua órbita corresponde muito bem às predições da teoria de Einstein. O que indica que nossas teorias estão indo no caminho certo.

Há outras observações da região também em raios-X e raios gamma, por exemplo. elas são capazes de dar uma boa avaliada nas condições ao redor do BN. O problema da região é ser superpovoada, dificulta muito a análise.
Mas é o suficiente para algumas chapas e ver a saúde de SgrA*

Durante os últimos anos o Event Horizon Telescope (EHT) observou SgrA* com precisão extrema, suficiente para resolver em uma imagem o tamanho do BN. É a primeira oportunidade que temos de ver a sombra dele.

Alerta de imagens legais do que esperamos ver: eventhorizontelescope.org/simulations-ga…

O EHT é um conjunto de radiotelescópios espalhados pelo planeta inteiro que agem em sincronia. Ao cruzar dados de todos eles a gente melhora a precisão, usa-se uma técnica chamada interferometria (detalhes disso já sai da minha expertise).
Os telescópios: eventhorizontelescope.org/array

Eles estão meio atrasados, mas em algum tempo devemos ter a primeira imagem de um horizonte de eventos. Com isso poderemos testar e aprender mais sobre a gravidade e sobre o próprio universo! Excitante, não?

Já disse algumas vezes antes, estamos em uma época bem emocionante para a astronomia. Lançamentos de novos telescópios, ondas gravitacionais, neutrinos, etc.
Ótima hora para pular dentro do barco, caros amigos.

Mais curiosidades, threads vocês podem conferir nas hashtags #AstroThreadBr e #Astrominibr E podem seguir o @AstroBotBR para não perderem nada.

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