Ale Santos Profile picture
Autor de SCIFI e Afrofuturismo, 2x Finalista do Jabuti, Finalista do CCXP Awards. 2022: O Último Ancestral, 2023: Assassin's Creed: Visionaries 📚 Novo 09/23

Sep 24, 2018, 13 tweets

Na escravidão, a busca pela liberdade nascia no segundo em que grilhões fechavam os pulsos dos negros. Muitos lutaram para encontrá-la em vida, mas essa história desoladora é sobre aqueles que só a encontraram através da própria morte no evento conhecido como Desembarque Igbo

É impossível contar quantas vidas africanas foram ceifadas pelo tráfico negreiro. A única estimativa são de quantos chegaram às Américas pelo Atlântico (12 milhões). A mortalidade nos navios era grotesca, historiadores estimam que entre 15 e 25%
dos negros morriam

O tratamento era brutal, pessoas amontoadas abaixo do convés. O calor era implacável e a falta de ar era desesperadora. Nem as velas que deveriam iluminar o local queimavam. Se alguma suspeita de doença surgisse, centenas de africanos poderiam ser lançados ao mar.

Várias revoltas surgiram nesse ambiente infernal, 50 motins ocorreram em navios negreiros entre 1699 e 1865. Em 1803 o povo Igbo promoveu uma das revoltas mais dramáticas dessa história, que se tornou lenda e símbolo da revolução africana contra a escravidão

Os Igbos, conhecidos atualmente como Nigerianos, são um dos maiores grupos étnicos da África, cerâmicas encontradas apontam origens de mais de 2 mil anos A.C. Seu calendário, matemática e sistema de governo eram sofisticados, se aproximando de uma república democrática moderna

Depois de sobreviver aos 8 mil Km de viagem pelo mar, 75 escravos foram comprados por John Couper e Thomas Spalding por 100 dólares cada. Os negros foram acorrentados, então, em uma embarcação menor para o transporte.

Antes de alcançarem seu destino, libertaram-se e tomaram a pequena embarcação. Afogando os seus raptores no rio. Um entre os Igbo parecia ser o sacerdote que guiava espiritualmente suas orações. Eles sabiam que seriam caçados e nunca retornariam para sua a África.

Mas uma coisa que a viagem havia ensinado é que qualquer oportunidade de se libertar daquele suplício deveria ser aproveitada. Pois não existia nada pior do que estar sob o domínio daqueles homens e de toda crueldade que viveram no navio.

Os 75 Africanos, caminharam juntos para as águas pantanosas de Dunbar Creek, cometendo suicídio em massa. Esse episódio é conhecido por alguns como a como a primeira grande marcha da liberdade na história da América.

Alguns foram resgatados, muitos desapareceram no rio. Inúmeras lendas foram cunhadas no imaginário dos negros que ainda almejavam sua libertação. Histórias sobre como eles entraram no rio e voaram de volta à África. O rio recebe incontáveis visitas até hoje.

Vários artistas celebram a memória dos Igbo. em 2016 @Beyonce retratou o desembarque no clipe de Love Drought

Da mesma forma que a frase poderosa de Killmonger no final do filme #BlackPanther “Enterre-me no oceano com meus ancestrais que saltaram de navios, porque eles sabiam que a morte era melhor que escravidão"

Donovan Nelson’s, artista Jamaicano criou várias ilustrações fenomenais como tributo a todos aqueles Igbos que desejaram morrer ao invés de viver como escravos

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