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Sep 21, 2018 17 tweets 4 min read Twitter logo Read on Twitter
Comecei a ler o "Como as Democracias Morrem" e nele os autores se questionam por que depois de décadas de avanço democrático (transição dos países comunistas do Leste Europeu, fim das ditaduras latino-americanas, passando pela primavera árabe), vivemos uma recessão democrática?
Eles estudaram crises democráticas em todo o mundo. Achavam, porém, q os EUA estavam imunes. Até que: "Estamos preopcupados. Os políticos norte-americanos agora tratam seus rivais como inimigos, intimidam a imprensa livre e ameaçam rejeitar o resultado das eleições" #Brasil2018?
Mussolini - diz o livro - fez sua parte para sacralizar-se como mito, mas a verdade é mais mundana: "usou os votos de seu partido, as DIVISÕES ENTRE OS PARTIDOS, o MEDO DO SOCIALISMO e a ameaça de violência dos 30 mil camisas-negras para capturar a atenção do tímido rei (...)"
No começo, o mercado e o establishment liberal aplaudiram Mussolini mas logo a Itália "se viu sob rédeas e esporas". Versões semelhantes dessa história: Hitler, Fujimori, Chávez. "Em cada caso, as elites acreditaram q o convite para exercer o poder conteria o outsider". Erraram.
Manter autoritários longe do poder tb é tarefa dos partidos. Como escreveu Juan Linz, cientista político alemão,"a morte de muitas democracias remonta ao fato de um partido dar preferência a um extremista do seu lado do espectro político do que por partidos do outro lado".
"Por fim, sempre q extremistas emergem como sérios competidores eleitorais, partidos predominantes devem forjar uma frente única para derrotá-los. P/ citar Linz, devem estar dispostos a 'juntar-se com oponentes ideologicamente distantes,mas comprometidos com a ordem democrática"
Como Trump conseguiu driblar as travas partidárias para ser indicado à presidência? Ele descobriu novas "maneiras de usar a velha mídia como um substituto dos endossos do partido" e das despesas tradicionais de campanha: atraía coberturas gratuitas criando #controvérsias.
"Muitos republicanos se apegaram ao dito segundo o qual os críticos de Trump o tomavam literalmente, mas não seriamente, enquanto seus apoiadores o tomavam seriamente mas não literalmente". De novo: #Eleições2018
O livro monta um teste de 4 pontos para medir se um candidato é um potencial ditador. O 1° é, att 🚨: "desdém pelas regras democráticas". No caso de Trump, "questionou a legitimidade da eleição e deixou no ar a sugestão sem precedentes de que poderia ñ aceitar o resultado"
Teste do candidato-ditador, segundo o livro Como as Democracias Morrem: ( ) desdenha as regras eleitorais? ( ) negação da legitimidade do adversário? ( ) tolerância ou encorajamento da violência? ( ) tendência a restringir liberdades civis? #Eleições2018
Ainda sobre o "Como as Democracias Morrem", os autores falam muito sobre as regras não escritas da democracia. A primeira é tolerância mútua entre adversários. A outra é "forbearance": exercer prerrogativas institucionais com moderação, no estilo "Poder, pode. Mas precisa?"
Citam o impeachment express de Lugo no Equador em 2012 e o de Abdalá Bucaram, acusado de "incapacidade mental", no Equador em 1997."Se usado de forma trivial, o impeachment pode se tornar um instrumento partidário p/ enfraquecer juntas apuradoras e derrubar resultados eleitorais"
Nos Estados Unidos tem o caso do senador Joseph McCarthy nos anos 1950 que apelou para o sentimento anticomunista para desacreditar adversários, um porrete contra a tolerância mútua entre Republicanos e Democratas. (Adj: macarthismo)
Hj, Trump - tal qual Fujimori, Chávez e Erdogan - começou seu mandato lançando ataques retóricos contundentes contra adversários. Chamou a imprensa, por ex, de inimiga do povo americano. Ainda na campanha, levantou falsas acusações de fraude, minando confiança pública em eleições
A atitude dos políticos ecoa no povo: quando regras não escritas são violadas reiteradamente, as sociedades tendem a "diluir a definição de desvio comportamental". O q antes era visto como anormal se torna normal. (Ver: vereadora executada, caravana alvejada, facada em comício)
Solução? Buscar caminhos institucionais e não se baixar ao nível dos autoritários. Problema da norma anterior? Eram acompanhadas por exclusão. "Hoje é preciso fazer essas normas funcionarem numa era de igualdade social e diversidade étnica". Diversidade = Democracia.
***Lugo: Paraguai. Bucaram: Equador

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Sep 28, 2018
Livros para tempos sombrios: "Sobre a tirania – vinte lições do séxulo XX para o presente, do Timothy Snyder. 1. Não obedeça de antemão". No começo de 1938, Hitler ameaçava anexar a Áustria quando o chanceler cedeu. Sua obediência por antecipação selou o destinos dos judeus.
2. Defenda as instituições. Eml 1933, um jornal dos judeus alemães publicou editorial expressando sua confiança equivocada de que Hitler não privaria os judeus de seus direito. Em menos de um ano, a Alemanha já era um estado de partido único e as instituições estavam subjugadas
3.Cuidado com o Estado de partido único. O abolicionista Wendell Phillips disse que “o preço da liberdade é a eterna vigilância”. Já o protagonista de um romance de David Lodge diz q quando você faz amor pela última vez não pode saber que será a última. O mesmo vale para eleições
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Aug 3, 2018
Quando no Exército, Bolsonaro respondeu por ato de indisciplina e deslealdade. Na ficha de informações, ficou anotada a opinião do superior de Bolsonaro, coronel Carlos Alfredo Pellegrino, sobre outro episódio, no qual Bolsonaro foi fazer garimpo irregular na Bahia.
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Disse ainda que Bolsonaro “tinha permanentemente a intenção de liderar os oficiais subalternos, no q foi sempre repelido, TANTO EM RAZÃO DO TRATAMENTO AGRESSIVO dispensado a seus camaradas, COMO PELA FALTA DE LÓGICA, RACIONALIDADE E EQUILÍBRIO na apresentação de seus argumentos"
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